AVALIAÇÃO DA COMUNICAÇÃO VERBAL EQUIPE- PACIENTE COMATOSO NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA (CTI) DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALZIRA VELANO.

AVALIAÇÃO DA COMUNICAÇÃO VERBAL EQUIPE- PACIENTE COMATOSO NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA (CTI) DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALZIRA VELANO.

* Evelise Aline SOARES, **Linara Mirelle DOMINGOS, **Marcelo Neves De SOUSA, **Talita Marques RODRIGUES, ***Flávia Ribeiro Martins MACEDO.

* Orientadora, Docente da Faculdade de Enfermagem da Unifenas – Alfenas MG.
** Acadêmicos da Faculdade de Enfermagem da Unifenas – Alfenas MG.
***Colaboradora, Docente da Faculdade de Enfermagem da Unifenas – Alfenas MG.

RESUMO
O coma é um estado clínico de inconsciência no qual o paciente não está ciente de si mesmo ou do ambiente por períodos prolongados. O comunicar com o cliente em coma durante a assistência respeita o direito de saber o que está acontecendo, como ou o que vai acontecer quando está sendo manipulado, explicando como e porque de tal ação. O presente estudo teve como objetivo verificar se os profissionais da área de saúde atuantes no CTI do Hospital Universitário Alzira Vellano comunicam verbalmente os procedimentos que serão realizados com os pacientes comatosos. O presente estudo foi realizado no C.T.I do Hospital Universitário Alzira Velano, fundamentado em uma análise quantitativa e qualitativa da comunicação verbal durante assistência a pacientes comatosos por diversos profissionais da área de saúde no decorrer de um período de três meses, durante os três turnos, seguindo o protocolo de CARDIM et al (2004). Verificou-se que apenas 134 (19.80%) procedimentos realizados foram comunicados ao paciente antes de sua realização e 543 (80.20%) foram executados sem comunicação alguma. Conclui-se que os profissionais não estão utilizando comunicação verbal para informar ou explicar os procedimentos a serem realizados no paciente em coma, sendo verificado um número de comunicação verbal muito inferior ao necessário.
Palavras-chave: Comunicação verbal, Pacientes Comatosos, C.T.I. e Humanização.

1 – INTRODUÇÃO

O Centro de Terapia Intensiva (CTI) é tida, atualmente, como um local onde se presta assistência qualificada e especializada, independentemente de os mecanismos tecnológicos utilizados serem cada vez mais avançados, capazes de tornar mais eficiente o cuidado prestado ao paciente em estado crítico (NASCIMENO e CAETANO, 2003). Centraliza recursos materiais e humanos que permitem um atendimento pronto e eficaz, onde a atuação da equipe multiprofissional deve estar voltada para um objetivo comum: a recuperação do doente enfermo (BARCELOS, GOMES e LACERDA, 2003).
Segundo Smeltzer e Bare (2002), o coma é um estado clínico de inconsciência no qual o paciente não está ciente de si mesmo ou do ambiente por períodos prolongados (dias a meses ou, até mesmo, anos).
O paciente em coma não atende as solicitações externas, embora os reflexos possam estar presentes (FEIJO e GOULART, 2002).
Fonseca, Anjos e Travassos (1983) referem que é imprescindível que ao lado da avaliação orgânica do paciente se faça à avaliação emocional do homem que, deitado no leito, limitado por uma série de fatores, se submete à aparelhagem desconhecida e a exames dos quais ignora a finalidade. Nunca será demais enfatizar a necessidade de uma tomada de consciência, cada vez maior, da problemática do Ser Humano no CTI.
Quando o paciente é internado dignamente em um CTI, ocorre total perda de sua independência como ser humano, pois passa a ser mais um paciente na rotina de trabalho dessa unidade. Ele é obrigado a seguir normas e rotinas estabelecidas pela instituição, imposições que são incorporadas pela equipe sem questionamento quanto às mudanças que podem acarretar na vida diária do paciente. Procurando facilitar o trabalho, habitualmente são retirados os seus pertences, como roupa, prótese dentária, relógio, e, principalmente a imposição de horários e número de visitantes quebrando o laço familiar (BARCELOS, GOMES e LACERDA, 2003).
A equipe de profissionais que se encontra em freqüente contato com o paciente comatoso deve observar mudanças nos níveis clínicos, pois estas, aparentemente insignificantes, podem ser importantes no diagnóstico e tratamento. Toda notificação deve ser precisa e exata, uma vez que o paciente é totalmente dependente da equipe para suas necessidades básicas (HOOD e DINCHER, 1995). O relacionamento equipe-paciente se fará, pois, de forma a preservar a individualidade do ser humano, evitando-se interpretações rápidas e errôneas de atitudes e comportamentos. Exige-se por tanto da parte da equipe, observação atenta, percepção a capacidade de entendimento da problemática que envolve o individuo no CTI (FONSECA, ANJOS e TRAVASSOS, 1983).
Para o plano de cuidados é necessário que o profissional codifique, decifre e perceba o significado das mensagens que o paciente envia (SILVA, 1996).
O comunicar com o paciente em coma durante a assistência respeita o direito de saber o que está acontecendo, como ou o que vai acontecer quando está sendo manipulado, explicando como e porque de tal ação (CINTRA, 2003).
Segundo Knobel (1998), nas práticas profissionais observa-se pobreza de comunicação e riqueza em toques durante os procedimentos. O silêncio surge como o dado mais significativo que acompanha o procedimento, é a fala muda através do toque, que tira da comunicação do som, o estímulo da voz que o paciente pode estar ou não ouvindo. Pode-se pensar e/ou inferir que cuidar do paciente em coma pode ser interpretado pelos profissionais como uma impossibilidade de linguagem que é caracterizada pela condição humana do enfermo.
Segundo Burlá e Py (2006), a comunicação se dá tradicionalmente, pela linguagem verbal; entretanto, a linguagem não-verbal, através da expressão facial, contato visual, a forma como o profissional se apresenta, seu tom de voz, a possibilidade do contato físico e o toque são quesitos indispensáveis para o bom contato. São momentos em que o profissional assoma na relação com o seu paciente como alguém que acolhe o que vê e sente, que registra o que ouve, que procura captar a expressividade de outrem.
Uma equipe treinada e alertada para um atendimento humanizado permite uma série de inovações, que passam pelo conforto do paciente e de sua família, aumenta o contato destes com a equipe assistencial, não isolando nenhuma das partes do paciente e possibilitando um atendimento integrado e integral colaborando para uma melhora mais rápida, pois o mesmo esta tendo apoio e participação integral de equipe e familiar (BARCELOS, GOMES e LACERDA, 2003).
Para Ferreira e Almeida (2001), “ter o corpo exposto configura uma violência psicológica e afeta a integridade moral do sujeito”. A nudez do corpo faz parte do cuidar, no entanto é preciso usar técnicas de comunicação para estabelecer o relacionamento terapêutico e conseguir sua colaboração e, ao mesmo tempo, preservar sua privacidade, proporcionando bem estar físico e mental.
No CTI o paciente tem privação sensorial, barreiras corpóreas para tocar o próprio corpo, não tem o mesmo contato diário com a família e barreiras para sua comunicação verbal (entubação, traqueostomia, cateter nasal). Tudo isso altera sua auto-estima, auto-imagem e sua própria capacidade de recuperação, já que sabemos que as modulações mentais são capazes de produzir mudanças nos sistemas nervoso autônomo, endócrino, imunológico. Mesmo os pacientes em estado crítico demonstram que os problemas sentidos por eles e suas expectativas em relação à equipe recaem mais na área expressiva do que na instrumental: separação da família, o ambiente desconhecido e agressivo, a quebra nos hábitos de alimentação e hidratação, o medo de morrer, a dependência de outrem, o desrespeito à privacidade e a falta de atenção individualizada (CINTRA, NISHIDE e NUNES, 2003).
Segundo Cintra, Nishide e Nunes (2003), resgatar a humanidade no CTI talvez seja voltar a refletir, cada vem mais conscientemente, sobre o que é ser humano. O CTI precisa e deve utilizar-se dos recursos tecnológicos cada vez mais avançados, porém nós, profissionais de CTI, não deveríamos esquecer jamais que a máquina substituirá a essência humana.
Perante o exposto, o presente estudo teve como objetivo verificar se os profissionais da área de saúde atuantes no CTI do Hospital Universitário Alzira Vellano comunicam verbalmente os procedimentos médicos-terapeuticos ao pacientes comatosos.

2 - MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado no C.T.I. do Hospital Universitário Alzira Velano, localizado na Rua Geraldo Freitas da Costa, 120, bairro Cruz Preta no município de Alfenas MG.
O estudo foi fundamentado em uma análise quantitativa e qualitativa da comunicação verbal durante assistência a pacientes comatosos por diversos profissionais da área de saúde (fisioterapia, enfermagem, medicina...), no decorrer de um período de três meses, durante os três turnos (vespertino, diurno e noturno), deste modo a amostra de profissionais e pacientes variou de acordo com as internações nos respectivos períodos.
Para quantificar as relações entre procedimentos/profissionais/comunicação verbal foi utilizado o protocolo de marcação proposto CARDIM et al. (2004).

TABELA 01 – Protocolo para registro procedimentos/profissionais/comunicação verbal

Data
Procedimentos
Realizados
Aux-Téc Enfer
Enfermagem
Fisioterapia
Medicina
Comunicação
SSVV          
SIM
NÃO
Curativo              
Mudança de decúbito              
Medicação EV/SC/IM              
Banho no leito              
Gasometria              
Exames lab.              
Exame físico              
Coleta de urina I e II              
Cateterismo vesical              
Sondagem Gástrica/Ent              
Higiene ocular/ oral              
Aspiração              
Testagem de sonda              
Gavagem              
Rodízio do sensor oxím              
Instalação de monitor              
Intubação              
Traqueostomia              
Fixação de tubo              
Troca selo d’água              
Oxigenoterapia              
Enteroclisma              
Punção venosa              
Intracath              
PAM              
PVC              
PIC              
ECG              
Tricotomia/tonsura              
Hemotransfusão              
Diálise              
Cardiversão/Desfibrilação              
Coleta de fezes              
Dieta oral/hidratação              
Massagem de conforto              
Verificação Pupilar              
Radiografia (Rx)              

Cabe ressaltar que este estudo resguardou a total privacidade dos sujeitos da amostra seguindo as diretrizes e normas de pesquisa envolvendo seres humanos preconizados pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde Nº 196 de 10 de outubro de 1996. O estudo foi executado após aprovação pelo comitê de ética em pesquisa - CEP da Universidade de Alfenas sob o parecer 08/2006.

3 – RESULTADOS

Durante a realização da pesquisa 677 procedimentos foram realizado no CTI do Hospital Universitário Alzira Vellano, sendo estes executados por diferentes profissionais da área da saúde, Médicos, Fisioterapeutas, radiologistas, Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem. Verificou-se que apenas 134 (19.80%) procedimentos realizados foram comunicados ao paciente antes de sua realização e 543 (80.20%) foram executados sem comunicação alguma.
A exploração da comunicação verbal com o paciente em coma nos levou a algumas descobertas que merecem ser apresentadas nos gráficos a seguir, onde se destaca o profissional atuante em procedimentos e a existência ou não de comunicação verbal esclarecendo ao paciente o que estaria ocorrendo.

FIGURA 01 – Número de procedimentos executados por auxiliares e técnicos de Enfermagem.



FIGURA 02 – Número de procedimentos executados por Enfermeiros.



FIGURA 03 – Número de procedimentos executados por Médicos.



FIGURA 04 – Número de procedimentos executados por Fisioterapeutas.



FIGURA 05 – Número de procedimentos executados por técnicos em radiologia.

Entre os procedimentos e manipulações realizadas no paciente as mais comunicadas foram à verificação dos sinais vitais 20 (14.60%), higiene oral 15 (10.94%), outros procedimentos sem significância estatística.
Os profissionais da instituição desconheciam a realização da pesquisa, o que auxiliou na obtenção dos dados apresentados.

4 – DISCUSSÃO

Stefanelli e Carvalho (2006), definem comunicação como sendo "um processo de compreender, compartilhar mensagens enviadas e recebidas, sendo que as próprias mensagens e o modo como se dá seu intercâmbio exerce influência no comportamento das pessoas nele envolvidas, considera que a comunicação é um instrumento básico da assistência prestada, ou seja, o processo que possibilita o relacionamento equipe profissional-paciente, além de ser uma necessidade humana básica, que torna a existência humana possível, a comunicação verbal depende da linguagem, pois ela é o recurso que os pacientes utilizam para expor suas idéias e compartilhar experiências”.
Tendo como bases os resultados da presente pesquisa pode-se verificar uma deficiência na comunicação equipe-paciente comatoso. De acordo com Cintra (2003), mesmo o paciente durante o coma deve saber o que esta acontecendo durante sua assistência. Torna-se importância da comunicação verbal, uma vez que a audição é o último sentido a ser perdido durante a evolução do coma (CIANCIARULLO, 1996).
O paciente comatoso é totalmente dependente da equipe para suas necessidades básicas de vida e conforto (SMELTZER e BARE, 2002 e HOOD e DINCHER, 1995). Observa-se que os procedimentos e técnicas de cuidado com o paciente comatoso internos na CTI estudado são realizados com regularidade e prontidão, no entanto poucos profissionais da equipe preocupam-se com comunicar ou explicar o procedimento a ser executado.
A comunicação com aquele que se encontra em situação de dependência total ou parcial para cuidar de si, paciente, seja qual for à qualificação que lhe atribuam, permeia todas as ações dos profissionais de saúde no desempenho de seu papel e, em especial, as do enfermeiro, que é o profissional que mais tempo permanece junto do paciente (CARDIM et al., 2004). A equipe de Enfermagem participante da amostra atua constantemente no CTI, no entanto, sendo o profissional que mais esta em contato com os pacientes comatosos observa-se à necessidade de resgatar humanização, já que o número de comunicação significantemente pequena.
A UTI é um ambiente onde prevalece o uso de tecnologia cada vez mais sofisticada, que pode fazer a diferença em favor da vida. No entanto, é preciso fazer uso da mesma para harmonização das pessoas visando seu atendimento na totalidade, de forma criativa e humanizada (OLIVEIRA, SANTOS e SILVA, 2003). O CTI do Alzira Velano consta de equipamentos e tecnologias necessárias para os pacientes comatosos, sendo referencia em toda região sulmineira.

5 – CONCLUSÃO

De acordo dos os resultados conclui-se que os profissionais não estão se utilizando a comunicação verbal para informar ou explicar os procedimentos a serem realizados no paciente em coma.
A partir dos dados expostos torna-se necessário orientar a equipe de atendimento para a importância da comunicação verbal, lembrando aos profissionais que a humanização da assistência é fundamental para a recuperação do paciente.

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BURLÁ, C.; PY,L. Comunicação ao fim da vida. Prática Hospital. Editora Office. Ano VIII, N43, Jan-Fev/2006.

CARDIM, M. G; COSTA, M.N.; NASCIMENTO, M.A.L.; FIGUEIREDO, N.M.A. O ser humano em coma e a comunicação verbal: quando o silêncio da equipe de enfermagem é uma forma de violência no ato de cuidar. Enfermagem Brasil, v.3, n.3, 2004.

CIANCIARULLO, T.I. Instrumentos básicos para o cuidar: Um desafio para a qualidade da assistência. São Paulo: Atheneu, 1996.

CINTRA, E. A. NISHIDE, J.M. NUNES W.A. Assistência de enfermagem ao paciente gravemente enfermo. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2003.

FEIJÓ, L.A. , GOULART, F. M. P. Caderno de Textos: Coma Neurológico 2002. p. 27-29

FERREIRA, M. A; ALMEIDA, F. A .J. Fundamentos sobre o corpo no cuidado. In: SANTOS, L. et al. Enfermagem Fundamental: Realiadade, questões, soluções. São Paulo: Atheneu, 2001, pág 302.

FONSECA, M.AQ; ANJOS, M. V.; TRAVASSOS, V.A Enfermagem em Centro de Tratamento Intensivo. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 1983.

HOOD, G. H.; DINCHER, J. R. Fundamentos e Prática da Enfermagem- Atendimento Complexo ao Paciente. 8º ed. Artes Médicas: Porto Alegre, 1995.

KNOBEL, E. Condutas no paciente grave. 2 ed. São Paulo: ATHENEU, Vol 2, 1998.

NASCIMENTO, A. R.; CAETANO, J A. Pacientes de UTI: Perspectivas e Sentimentos Revelados. Nursing, fevereiro 2003, Ano 6, N57.

OLIVEIRA, F.P.T; SANTOS, G.S.; SILVA,L.S. A Percepção do Paciente sobre sua Permanência na UTI. Nursing, maio2003, ano6, n 60.

SILVA, M.J.P. Comunicação tem remédio: comunicação nas relações interpessoais em saúde. 2. ed. São Paulo: Gente, 1996.

SMELTZER, S. C. e BARE, B. G. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 9ª ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2002.

STEFANELLI, M.C.; CARVALHO, E.C. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. Barueri, SP: Manole, 2006.